sábado, 23 de julho de 2016

EVANGELIZAÇÃO E O CONTEXTO HISTÓRICO



3  EVANGELIZAÇÃO E O CONTEXTO HISTÓRICO


         Evangelização é o ponto central para a expansão do cristianismo. O contexto histórico revela muito desse crescimento. A forma como Deus no Antigo Testamento usava os profetas para dirigir-se ao povo de Israel, conforme a Bíblia, considerado o povo escolhido por Ele. E no Novo Testamento o desempenho dos apóstolos, juntamente com os demais seguidores de Jesus, os quais contribuíram para a expansão do cristianismo, são pontos importantes a serem observados neste capítulo.

3.1. A evangelização no Antigo Testamento


         Quando Deus criou o homem e lhe deu um único mandamento que seria o não comer do fruto da árvore da vida, no exato momento em que este homem quebrou tal regra, criou-se no coração de Deus o desejo de restabelecer a comunhão quebrada pela desobediência. (BÍBLIA, Gênesis 3)
Deus criou o homem para o seu louvor (BÍBLIA, Efésios 1:12) assim o plano seria o homem voltar-se a ELE, não por obrigação, porém, de forma voluntária, por amor.  Desde o livro de Gênesis até Apocalipse, já havia a promessa para a destruição de satanás e seus anjos (BÍBLIA, Apocalipse 20: 7-1) E quando declara que a descendência da mulher esmagaria a cabeça da serpente (BÍBLIA, Genesis 3-15)
Todo o desenrolar da criação do homem, de Genesis até o fim do Antigo Testamento, mostra o cuidado de Deus para com o homem, posteriormente para com Israel. Israel foi o povo escolhido para ser luz às outras nações. Deus lhes deu a Torah, para servir de direcionamento ao povo. Assim, os outros povos observariam Israel e veriam o quanto o seu Deus cuidava deles, desta forma os outros povos seriam atraídos a ELE, conforme já fora visto. Tal atitude de evangelismo é designada segundo Macarthur, (2012) “os teólogos se referem a isso como missão centrípeta”, isto é, um evangelismo que ocorre de dentro para fora. Ao observar o povo de Israel, os outros povos observariam que havia uma diferença e que estes possuíam um Deus cuidador, assim seriam atraídos a Deus.
            Dentro da missão de Israel os profetas eram enviados para falar com o povo. Pode-se destacar Isaías, Malaquias, Ezequiel, Jeremias Daniel, Amós e outros. Segundo Zenger, (2003, p. 209) “Os profetas são enviados por Javé para exortar a que não se renegue o verdadeiro culto a Javé. Eles dispõem de poderes milagrosos, e sua palavra se realiza”.
Os profetas no Antigo Testamento receberam a missão de levar a revelação de Deus para os homens. (BÍBLIA, 1Samuel 8-10) Deus não falava diretamente com o povo, assim usava os profetas para entregar a mensagem a todos. (BÍBLIA, Isaias 49:1-2; Jeremias 1:1-5) Eles serviram de exemplo para as gerações no decorrer dos tempos. Algumas vezes não eram bem vistos, pois as palavras que pregavam os tornavam persona non grata (BÍBLIA, Jeremias 15:1). Em alguns casos iam de formar contrário ao sistema político de governo (BÍBLIA, Amós 15:9-12), sempre anunciando ao povo o arrependimento dos seus pecados.
No Antigo Testamento Deus usava os seus profetas para avisar ao povo que deveriam deixar as coisas erradas que faziam tais como: a idolatria a outros deuses; oferecimentos de ofertas condenadas aos ídolos, a desobediência para com Deus e  não prestassem culto a Deus como um deus qualquer, o falso jejum,  a falsa segurança religiosa, a injustiça, a religiosidade natural e a falsa profecia ( BÍBLIA, Isaías 9:8-21; 10:1-4;  28:1-13; 44:9-20;  46:1-13, Jeremias 5:1-30; 10:1-11;  11:1-17; Zacarias 7:1-14; Ezequiel 6:1-14; 11; 13; 14; 21:1-17)
Segundo Guthrie, (2014, p.150) “Os profetas fizeram mais do que prever o futuro. Eles também foram os pregadores de sua época, chamando o povo a ser fiel à aliança”.
Os profetas eram encarregados de anunciar ao povo uma mudança de conduta para com Deus e ao próximo. Além disso, falavam o que deveria acontecer se o povo não mudasse de atitude, anunciando uma visão do futuro. Condenavam várias atitudes que o povo praticava, e pela falta de arrependimento e mudança, como resultado eram levados como escravos ou mortos em batalhas, devido as suas más ações. Com isso, os profetas de certa forma foram mal vistos perante o povo e perante os reis. Pois profetizavam contra o desejo dos reis, falando o que não gostariam de ouvir, se opondo contra o sistema político da época. (BÍBLIA, Isaías 7:1-7; Amós 2:6; 3:1-8; 4:1-13; Sofonias 3:1-11; Daniel 4; 5:13-30; 7; 8; 9; 10; 11; 12; Oséias 4: 1-19; 9:1-17; 10; 12; 13; 14; Jeremias 7: 29-34; 10:1-11; 21:14; 22:1-30; 23:1-40; 25:1-38; 52:1-34)
Contudo, apesar do sofrimento do povo e devido a sua desobediência, os profetas anunciavam o conserto que Deus faria para com eles. Anunciavam também a destruição dos povos que os atacavam. Mostrando assim, o amor de Deus e o cuidado Dele para com Israel, mesmo com a desobediência. Deus havia feito promessas para Israel e tais promessas haveriam de se cumprir. Em certos momentos o povo se arrependia e voltavam para Deus e depois pecavam novamente. Então os profetas entravam em ação novamente para exorta-los.
Eles também já anunciavam a vinda do Messias, avisando como Deus faria uma nova aliança com seu povo. DEUS faria com que o povo se voltassem para Ele. Os profetas não pregavam somente arrependimento, mas também mensagens de boas novas, apesar do desprezo do povo para com Deus, os profetas deixavam uma mensagem de esperança para as gerações futuras. (BÍBLIA, Isaías 9:1-7; 11; 48; 49; 50; 54; Jeremias 31; 50:4-20; 51:36-40; Ezequiel 34:11-31; 36:1-38; Oséias 14; Joel 2:12-27; Amós 9:11-15; Abadias 1:17-21; Sofonias 3:14-29; Ageu 2:15-19; Zacarias 10; 14).
         Tomando Ezequiel como exemplo, um dos profetas usados por Deus, quando o israelitas encontravam-se cativo em Babilônia. Ezequiel profetiza entre os cativos, e seu trabalho evangelístico era: Levar o povo ao arrependimento, mediante a idolatria com o qual se contaminavam constantemente.
Foi durante essa época e através desses grupos que Ezequiel realizou seu                     maravilhoso ministério. De seu trabalho e profecia, os cativos foram ensinados                que a calamidade veio sobre eles por causa da idolatria. Nas sinagogas, isso foi             ensinado à tamanha extensão que a idolatria foi abandonada e não mas era um              grande problema para os Judeus.( HALE, 1983, P.9)
Como o termo evangelização significar levar as boas novas, então pode-se dizer que Ezequiel levou a mensagem de arrependimento para a época do cativeiro. O povo voltaria a Deus, pois a idolatria fez com que o povo se afastasse de DEUS (Bíblia sagrada, Isaias, 42:8). A técnica utilizada por Ezequiel era proclamação oral, realizado principalmente nas sinagogas onde se reuniam.
Assim, não somente Ezequiel, mas todos os profetas, os quais na sua grande maioria exortava o povo ao arrependimento, como relata todo o Antigo Testamento. Nesse período foi permitido ao povo liberdade de culto nas sinagogas - que deveria ser algo improvisado até a reconstrução do templo - onde se reuniam para adorar a Deus e para refletir sobre a TORAH. O anúncio de arrependimento foi proclamado por todo o antigo testamento através dos profetas.

 

3.2 A Evangelização no Novo Testamento


          Segundo  Guthrie (2014. p. 148), “A promessa retumbante de paz ainda precisa ser ouvida hoje; os profetas do antigo testamento ressoam mensagens que o mundo ainda precisa ouvir”.
         Como os profetas do Antigo Testamento anunciavam a mensagem, agora no Novo Testamento o anúncio começa por meio de João Batista, primo de Jesus, o qual prepara o caminho para o Messias. Ele anuncia o arrependimento dos pecados e o batismo nas águas, como símbolo dessa nova condição do homem, ele é o responsável para preparar o caminho da chegada do Messias.
E, naqueles dias, apareceu João batista pregando no deserto da Judeia e dizendo:  Arrependei-vos, porque é chagado o reino dos céus. Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse: Voz do que clama no deserto. Preparai o caminho do Senhor. Endireitai as suas veredas. E este João tinha a suas vestes de pelos de camelo, e alimentava-se de gafanhoto e mel silvestre. Então ia ter com ele em Jerusalém e toda a Judeia e toda a província adjacente ao Jordão; E eram por ele batizado no rio Jordão, confessando os seus pecados. (BÍBLIA, Evangelho de Mateus 3:1-6)
     Com o nascimento de Jesus, aquele a quem João esperava, a mensagem do Reino de Deus teve uma nova forma de transmissão. A palavra agora se fez carne para ensinar o caminho que leva a Deus. Jesus começa a chamar os seus discípulos para fazerem parte da grande comissão. Escolhendo 12 homens, posteriormente chamados de apóstolos. Esses homens seriam homens íntimos de Jesus e seriam as suas testemunhas para levar a mensagem do Reino de Deus. Foi através de testemunho que a evangelização começou no Novo Testamento. As pregações de Jesus em meio as multidões, os ensinamentos e todas as formas utilizadas por ele para transmitir a informação em favor do Reino, torna-se o meio de evangelização entre o povo. (BÍBLIA, Evangelho de Lucas) 
A igreja primitiva não se limitou em transmitir apenas uma mensagem de Jesus. Mas a igreja encontrou em Jesus e em seu ministério o manancial para a evangelização. Isto é expresso através dos evangelhos, epístolas e em Atos dos apóstolos. (COSTA, 2014, p. 91)
Jesus levou o evangelho não só para o Israel institucional que compreendia os apóstolos, seria também a minoria Judaica, mas ao segundo grupo que seria o Israel de seguidores ou o Povo da Aliança no caso a periferia do Israel Institucional (pecadores, coletores de importo). A evangelização de Jesus consistia em levar a mensagem a todos (COSTA, 2014).
A mensagem não poderia se deter apenas em Jerusalém ou na Galileia, deveria se espalhar entre todas as nações, este era o plano. A expressão usada em Marcos “ir adiante” significa o chamado dos discípulos, quando Jesus ressuscitou e disse às mulheres que deveriam falar para os discípulos que Ele está indo adiante para a Galileia. Dessa forma os discípulos deveriam sair de Jerusalém e voltar para a Galileia, encontra-se com Jesus e assim serem batizados para dar continuidade a missão evangelizadora (COSTA, 2014).
O grupo de discípulos surge a igreja. A formação da igreja se dá primeiramente com o chamado dos apóstolos, ali Jesus institui a sua igreja na terra. Embora, de forma histórica a igreja tenha começado com Pentecoste. 
Conforme afirma Nichols, (2000, p. 29)
                               Num certo sentido, a igreja Cristã teve seu nascimento quando Jesus chamou                                                       seus  primeiros discípulos. Comumente se diz que a história da igreja teve início                                                     em  Pentecostes, que se seguiu a ressurreição, pois foi quando teve começo a                                                       vida ativa da igreja.
A partir do encontro com Cristo ressurreto os discípulos entenderam ainda mais a necessidade da evangelização:
              Os discípulos começaram a entender porque a cruz era necessária quando se                  encontraram com Cristo ressurreto. Acima de tudo, eles compreenderam que                 Jesus era  o Reino de Deus em pessoa. Com este novo entendimento eles                      estavam prontos   para evangelizar. (COSTA, 2014, p.109).
Com esta vida ativa ao qual o autor supracitado se refere à igreja primitiva, com a morte dos apóstolos, coube a continuação da mensagem as pessoas mais próximas a eles. A princípio o anúncio do evangelho se dava através do testemunho de cada um acerca de Cristo. Ela tinha como característica marcante ser uma igreja missionária. Apesar das autoridades judaicas tentarem deter seu avanço, com a perseguição e morte de alguns como Estevão, mas a evangelização continuou. (BÍBLIA, Atos 6-1-4)

Segundo Nichols (2000, p.31),

As autoridades religiosas judaicas que tinham tentado embaraçar a pregação evangélica levantaram-se por causa do audaz desafio, que foi o discurso de Estevão; então empreenderam uma campanha selvagem, violenta e sistemática contra o Cristianismo. Com esse ataque a comunidade cristã de Jerusalém, que já contava com alguns milhares, foi dissolvida.
Apesar de toda perseguição aos cristãos a morte dos mártires, e toda as atrocidades sofridas por quem assumia a fé em Jesus Cristo, não destruiu a igreja de Deus. Eles não aceitavam adorar outros deuses e nem adorar o imperador como um ser divino e várias outras questões contribuíram para a perseguição. Além do mais não existia forma mais contundente de evangelismo do que não temer a própria morte, frente a não negação da fé em Cristo Jesus.
E assim, vai se desenvolvendo a tarefa da evangelização que sempre foi de grande importância na história da igreja de modo que “A igreja de Cristo só é igreja por causa do evangelismo, desde os dias dos apóstolos” (SMITH, 2002, p.93).
Deste mesmo modo, a “Evangelização na Igreja Primitiva era algo muito natural, fazia parte do cotidiano de vida da comunidade de fé, Tinha uma visão de coletivo [...]”. (RODRIGUES, 2011, p.61)
As comunidades cristãs da época consistiam em reuniões nas casas, formada por judeus convertidos e tementes a Deus e gentios simpatizantes. Deixando claro que existia unidade entre os irmãos da igreja.
 Ao contrário do que se esperava, as perseguições fizeram com que a Igreja estivesse sempre em contínuo deslocamento de forma geográfica. Pois alguns conseguiam fugir para não serem mortos. Desta forma a mensagem do Reino espalhou-se por diversos lugares, assim a evangelização se solidificou e fortaleceu a Igreja, pois estavam dispostos a morrer por sua fé (NOLASCO,2010).
 Então, a perseguição contribuiu: para o crescimento do cristianismo; a formação dos livros canônicos; e para a construção da literatura apologética. Com Constantino, adotando uma posição política, se unindo aos cristãos, acabando com as perseguições e determinado o cristianismo como religião oficial do Império Romano. Mais tarde com a Patrística todos os escritos deixados, tiveram um interesse puramente histórico por parte da Igreja, já com a Reforma veio o interesse Teológico. (SILVA, 2012).
Na história da igreja neotestamentária, é importante citar um dos apóstolos mais usado por Jesus na missão, não que os outros não o tenham sido, contudo as cartas de Paulo deixaram instruções escritas importantes para os fundamentos da fé cristã.
Paulo foi um perseguidor implacável dos cristãos, contudo após o seu encontro de forma sobrenatural com Jesus, ele se tornou o apóstolo dos gentios, posição a qual defendia. A obra missionária de Paulo deixa um exemplo de dedicação e comprometimento com o evangelho de Cristo. Em suas cartas fica notória a mudança de atitudes e crescimento espiritual ao longo da sua jornada como cristão. As suas viagens missionárias lhes renderam uma vasta experiência na pregação das boas novas, passando por perigos, perseguição, fome e tantas outras desventuras, fortaleceu o seu espírito evangelístico e só reforçou a sua fé. Prova disto, em meio ao cárcere, sabendo que sua hora final se aproximava ele declara em mais uma de suas cartas (SILVA, 2012), “Combati o bom combate, completei a carreira, e guardei a fé” (Bíblia Sagrada, Timóteo 4:7)
 Sem os testemunhos de cada cristão, utilizado para dar continuidade a mensagem, o evangelho teria sucumbido com os apóstolos. E não foi isso o que aconteceu. Ao contrário, os pais da igreja se utilizaram de várias formas para dar continuidade a pregação das boas novas. Como mostra a história ao longo do tempo, a utilização principalmente das viagens evangelísticas, cartas e a tradição oral (técnica oral e textual) tiveram total relevância na evangelização e na continuidade da igreja.
Conforme o exposto, foi importante o papel dos apóstolos, pais da igreja, dos mártires e de todos os cristãos os quais não negaram a fé em Jesus e deram continuidade a distribuição das Boas Novas. No antigo e novo testamento, através dos escritos deixados ao longo do tempo, projetaram os alicerces da igreja, até os dias de hoje. Os manuscritos serviram de instrução, através da bíblia para o povo cristão, fortalecendo o processo de evangelismo no decorrer dos séculos. Todo os fatos relatados, deixam claro na história, apesar do sofrimento dos mártires e de toda perseguição sofrida ontem, e em alguns lugares no mundo nos dias atuais, a igreja continua a sua trajetória de proclamação.


Angélica Dantas

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