3 EVANGELIZAÇÃO E O
CONTEXTO HISTÓRICO
Evangelização
é o ponto central para a expansão do cristianismo. O contexto histórico revela
muito desse crescimento. A forma como Deus no Antigo Testamento usava os
profetas para dirigir-se ao povo de Israel, conforme a Bíblia, considerado o
povo escolhido por Ele. E no Novo Testamento o desempenho dos apóstolos,
juntamente com os demais seguidores de Jesus, os quais contribuíram para a
expansão do cristianismo, são pontos importantes a serem observados neste
capítulo.
3.1. A evangelização no Antigo
Testamento
Quando
Deus criou o homem e lhe deu um único mandamento que seria o não comer do fruto
da árvore da vida, no exato momento em que este homem quebrou tal regra,
criou-se no coração de Deus o desejo de restabelecer a comunhão quebrada pela
desobediência. (BÍBLIA, Gênesis 3)
Deus
criou o homem para o seu louvor (BÍBLIA, Efésios 1:12) assim o plano seria o
homem voltar-se a ELE, não por obrigação, porém, de forma voluntária, por amor. Desde o livro de Gênesis até Apocalipse, já
havia a promessa para a destruição de satanás e seus anjos (BÍBLIA, Apocalipse
20: 7-1) E quando declara que a descendência da mulher esmagaria a cabeça da serpente
(BÍBLIA, Genesis 3-15)
Todo o
desenrolar da criação do homem, de Genesis até o fim do Antigo Testamento,
mostra o cuidado de Deus para com o homem, posteriormente para com Israel. Israel
foi o povo escolhido para ser luz às outras nações. Deus lhes deu a Torah, para
servir de direcionamento ao povo. Assim, os outros povos observariam Israel e
veriam o quanto o seu Deus cuidava deles, desta forma os outros povos seriam
atraídos a ELE, conforme já fora visto. Tal atitude de evangelismo é designada
segundo Macarthur, (2012) “os teólogos se referem a isso como missão centrípeta”,
isto é, um evangelismo que ocorre de dentro para fora. Ao observar o povo de
Israel, os outros povos observariam que havia uma diferença e que estes
possuíam um Deus cuidador, assim seriam atraídos a Deus.
Dentro
da missão de Israel os profetas eram enviados para falar com o povo. Pode-se
destacar Isaías, Malaquias, Ezequiel, Jeremias Daniel, Amós e outros. Segundo
Zenger, (2003, p. 209) “Os profetas são enviados por Javé para exortar a
que não se renegue o verdadeiro culto a Javé. Eles dispõem de poderes milagrosos,
e sua palavra se realiza”.
Os
profetas no Antigo Testamento receberam a missão de levar a revelação de Deus
para os homens. (BÍBLIA, 1Samuel 8-10) Deus não falava diretamente com o povo,
assim usava os profetas para entregar a mensagem a todos. (BÍBLIA, Isaias
49:1-2; Jeremias 1:1-5) Eles serviram de exemplo para as gerações no decorrer
dos tempos. Algumas vezes não eram bem vistos, pois as palavras que pregavam os
tornavam persona non grata (BÍBLIA,
Jeremias 15:1). Em alguns casos iam de formar contrário ao sistema político de
governo (BÍBLIA, Amós 15:9-12), sempre anunciando ao povo o arrependimento dos
seus pecados.
No
Antigo Testamento Deus usava os seus profetas para avisar ao povo que deveriam
deixar as coisas erradas que faziam tais como: a idolatria a outros deuses;
oferecimentos de ofertas condenadas aos ídolos, a desobediência para com Deus e
não prestassem culto a Deus como um deus
qualquer, o falso jejum, a falsa
segurança religiosa, a injustiça, a religiosidade natural e a falsa profecia (
BÍBLIA, Isaías 9:8-21; 10:1-4; 28:1-13;
44:9-20; 46:1-13, Jeremias 5:1-30;
10:1-11; 11:1-17; Zacarias 7:1-14;
Ezequiel 6:1-14; 11; 13; 14; 21:1-17)
Segundo
Guthrie, (2014, p.150) “Os profetas fizeram mais do que prever o futuro. Eles
também foram os pregadores de sua época, chamando o povo a ser fiel à aliança”.
Os
profetas eram encarregados de anunciar ao povo uma mudança de conduta para com
Deus e ao próximo. Além disso, falavam o que deveria acontecer se o povo não
mudasse de atitude, anunciando uma visão do futuro. Condenavam várias atitudes
que o povo praticava, e pela falta de arrependimento e mudança, como resultado eram
levados como escravos ou mortos em batalhas, devido as suas más ações. Com
isso, os profetas de certa forma foram mal vistos perante o povo e perante os
reis. Pois profetizavam contra o desejo dos reis, falando o que não gostariam
de ouvir, se opondo contra o sistema político da época. (BÍBLIA, Isaías 7:1-7;
Amós 2:6; 3:1-8; 4:1-13; Sofonias 3:1-11; Daniel 4; 5:13-30; 7; 8; 9; 10; 11;
12; Oséias 4: 1-19; 9:1-17; 10; 12; 13; 14; Jeremias 7: 29-34; 10:1-11; 21:14;
22:1-30; 23:1-40; 25:1-38; 52:1-34)
Contudo,
apesar do sofrimento do povo e devido a sua desobediência, os profetas
anunciavam o conserto que Deus faria para com eles. Anunciavam também a
destruição dos povos que os atacavam. Mostrando assim, o amor de Deus e o
cuidado Dele para com Israel, mesmo com a desobediência. Deus havia feito
promessas para Israel e tais promessas haveriam de se cumprir. Em certos
momentos o povo se arrependia e voltavam para Deus e depois pecavam novamente.
Então os profetas entravam em ação novamente para exorta-los.
Eles
também já anunciavam a vinda do Messias, avisando como Deus faria uma nova
aliança com seu povo. DEUS faria com que o povo se voltassem para Ele. Os
profetas não pregavam somente arrependimento, mas também mensagens de boas
novas, apesar do desprezo do povo para com Deus, os profetas deixavam uma
mensagem de esperança para as gerações futuras. (BÍBLIA, Isaías 9:1-7; 11; 48;
49; 50; 54; Jeremias 31; 50:4-20; 51:36-40; Ezequiel 34:11-31; 36:1-38; Oséias
14; Joel 2:12-27; Amós 9:11-15; Abadias 1:17-21; Sofonias 3:14-29; Ageu
2:15-19; Zacarias 10; 14).
Tomando Ezequiel como exemplo, um dos
profetas usados por Deus, quando o israelitas encontravam-se cativo em
Babilônia. Ezequiel profetiza entre os cativos, e seu trabalho evangelístico
era: Levar o povo ao arrependimento, mediante a idolatria com o qual se
contaminavam constantemente.
Foi durante essa época e através desses grupos que Ezequiel
realizou seu maravilhoso ministério. De seu trabalho e profecia, os cativos
foram ensinados que a calamidade veio sobre eles por causa da idolatria. Nas
sinagogas, isso foi ensinado à tamanha extensão que a idolatria foi abandonada
e não mas era um grande problema para os Judeus.( HALE, 1983, P.9)
Como o
termo evangelização significar levar as boas novas, então pode-se dizer que
Ezequiel levou a mensagem de arrependimento para a época do cativeiro. O povo
voltaria a Deus, pois a idolatria fez com que o povo se afastasse de DEUS
(Bíblia sagrada, Isaias, 42:8). A técnica utilizada por Ezequiel era
proclamação oral, realizado principalmente nas sinagogas onde se reuniam.
Assim,
não somente Ezequiel, mas todos os profetas, os quais na sua grande maioria
exortava o povo ao arrependimento, como relata todo o Antigo Testamento. Nesse
período foi permitido ao povo liberdade de culto nas sinagogas - que deveria
ser algo improvisado até a reconstrução do templo - onde se reuniam para adorar
a Deus e para refletir sobre a TORAH. O anúncio de arrependimento foi
proclamado por todo o antigo testamento através dos profetas.
3.2 A Evangelização no Novo Testamento
Segundo Guthrie (2014. p. 148), “A promessa
retumbante de paz ainda precisa ser ouvida hoje; os profetas do antigo
testamento ressoam mensagens que o mundo ainda precisa ouvir”.
E, naqueles
dias, apareceu João batista pregando no deserto da Judeia e dizendo:
Arrependei-vos, porque é chagado o reino dos céus. Porque este é o
anunciado pelo profeta Isaías, que disse: Voz do que clama no deserto. Preparai
o caminho do Senhor. Endireitai as suas veredas. E este João tinha a suas
vestes de pelos de camelo, e alimentava-se de gafanhoto e mel
silvestre. Então ia ter com ele em Jerusalém e toda a Judeia e toda a província
adjacente ao Jordão; E eram por ele batizado no rio Jordão, confessando os seus
pecados. (BÍBLIA, Evangelho de Mateus 3:1-6)
Com o
nascimento de Jesus, aquele a quem João esperava, a mensagem do Reino de Deus
teve uma nova forma de transmissão. A palavra agora se fez carne para ensinar o
caminho que leva a Deus. Jesus começa a chamar os seus discípulos para fazerem
parte da grande comissão. Escolhendo 12 homens, posteriormente chamados de
apóstolos. Esses homens seriam homens íntimos de Jesus e seriam as suas
testemunhas para levar a mensagem do Reino de Deus. Foi através de testemunho
que a evangelização começou no Novo Testamento. As pregações de Jesus em meio
as multidões, os ensinamentos e todas as formas utilizadas por ele para transmitir
a informação em favor do Reino, torna-se o meio de evangelização entre o povo.
(BÍBLIA, Evangelho de Lucas)
A igreja primitiva não se limitou em transmitir apenas uma
mensagem de Jesus. Mas a igreja encontrou em Jesus e em seu ministério o
manancial para a evangelização. Isto é expresso através dos evangelhos, epístolas
e em Atos dos apóstolos. (COSTA, 2014, p. 91)
Jesus
levou o evangelho não só para o Israel institucional que compreendia os
apóstolos, seria também a minoria Judaica, mas ao segundo grupo que seria o
Israel de seguidores ou o Povo da Aliança no caso a periferia do Israel
Institucional (pecadores, coletores de importo). A evangelização de Jesus
consistia em levar a mensagem a todos (COSTA, 2014).
A
mensagem não poderia se deter apenas em Jerusalém ou na Galileia, deveria se
espalhar entre todas as nações, este era o plano. A expressão usada em Marcos
“ir adiante” significa o chamado dos discípulos, quando Jesus ressuscitou e
disse às mulheres que deveriam falar para os discípulos que Ele está indo
adiante para a Galileia. Dessa forma os discípulos deveriam sair de Jerusalém e
voltar para a Galileia, encontra-se com Jesus e assim serem batizados para dar
continuidade a missão evangelizadora (COSTA,
2014).
O grupo de discípulos surge a igreja. A formação
da igreja se dá primeiramente com o chamado dos apóstolos, ali Jesus institui a
sua igreja na terra. Embora, de forma histórica a igreja tenha começado com
Pentecoste.
Conforme afirma Nichols, (2000, p. 29)
Num certo sentido, a
igreja Cristã teve seu nascimento quando Jesus chamou seus primeiros
discípulos. Comumente se diz que a história da igreja teve início em Pentecostes, que se seguiu a ressurreição, pois foi quando teve começo a vida
ativa da igreja.
A
partir do encontro com Cristo ressurreto os discípulos entenderam ainda mais a
necessidade da evangelização:
Os discípulos começaram a entender porque a cruz era
necessária quando se encontraram com Cristo ressurreto. Acima de tudo, eles
compreenderam que Jesus era o Reino de Deus em pessoa. Com este novo
entendimento eles estavam prontos para evangelizar. (COSTA, 2014, p.109).
Com
esta vida ativa ao qual o autor supracitado se refere à igreja primitiva, com a
morte dos apóstolos, coube a continuação da mensagem as pessoas mais próximas a
eles. A princípio o anúncio do evangelho se dava através do testemunho de cada
um acerca de Cristo. Ela tinha como característica marcante ser uma igreja
missionária. Apesar das autoridades judaicas
tentarem deter seu avanço, com a perseguição e morte de alguns como Estevão,
mas a evangelização continuou. (BÍBLIA, Atos 6-1-4)
Segundo
Nichols (2000, p.31),
As autoridades religiosas judaicas que tinham tentado
embaraçar a pregação evangélica levantaram-se por causa do audaz desafio, que
foi o discurso de Estevão; então empreenderam uma campanha selvagem, violenta e
sistemática contra o Cristianismo. Com esse ataque a comunidade cristã de
Jerusalém, que já contava com alguns milhares, foi dissolvida.
Apesar
de toda perseguição aos cristãos a morte dos mártires, e toda as atrocidades
sofridas por quem assumia a fé em Jesus Cristo, não destruiu a igreja de Deus.
Eles não aceitavam adorar outros deuses e nem adorar o imperador como um ser
divino e várias outras questões contribuíram para a perseguição. Além do mais
não existia forma mais contundente de evangelismo do que não temer a própria
morte, frente a não negação da fé em Cristo Jesus.
E
assim, vai se desenvolvendo a tarefa da evangelização que sempre foi de grande
importância na história da igreja de modo que “A igreja de Cristo só é igreja
por causa do evangelismo, desde os dias dos apóstolos” (SMITH, 2002, p.93).
Deste
mesmo modo, a “Evangelização na Igreja Primitiva era algo muito natural, fazia
parte do cotidiano de vida da comunidade de fé, Tinha uma visão de coletivo
[...]”. (RODRIGUES, 2011, p.61)
As
comunidades cristãs da época consistiam em reuniões nas casas, formada por
judeus convertidos e tementes a Deus e gentios simpatizantes. Deixando claro
que existia unidade entre os irmãos da igreja.
Ao contrário do que se esperava, as
perseguições fizeram com que a Igreja estivesse sempre em contínuo deslocamento
de forma geográfica. Pois alguns conseguiam fugir para não serem mortos. Desta
forma a mensagem do Reino espalhou-se por diversos lugares, assim a
evangelização se solidificou e fortaleceu a Igreja, pois estavam dispostos a
morrer por sua fé (NOLASCO,2010).
Então, a perseguição contribuiu: para o
crescimento do cristianismo; a formação dos livros canônicos; e para a
construção da literatura apologética. Com Constantino, adotando uma posição política,
se unindo aos cristãos, acabando com as perseguições e determinado o
cristianismo como religião oficial do Império Romano. Mais tarde com a
Patrística todos os escritos deixados, tiveram um interesse puramente histórico
por parte da Igreja, já com a Reforma veio o interesse Teológico. (SILVA,
2012).
Na
história da igreja neotestamentária, é importante citar um dos apóstolos mais
usado por Jesus na missão, não que os outros não o tenham sido, contudo as
cartas de Paulo deixaram instruções escritas importantes para os fundamentos da
fé cristã.
Paulo
foi um perseguidor implacável dos cristãos, contudo após o seu encontro de
forma sobrenatural com Jesus, ele se tornou o apóstolo dos gentios, posição a
qual defendia. A obra missionária de Paulo deixa um exemplo de dedicação e
comprometimento com o evangelho de Cristo. Em suas cartas fica notória a
mudança de atitudes e crescimento espiritual ao longo da sua jornada como
cristão. As suas viagens missionárias lhes renderam uma vasta experiência na
pregação das boas novas, passando por perigos, perseguição, fome e tantas
outras desventuras, fortaleceu o seu espírito evangelístico e só reforçou a sua
fé. Prova disto, em meio ao cárcere, sabendo que sua hora final se aproximava
ele declara em mais uma de suas cartas (SILVA, 2012), “Combati o bom combate,
completei a carreira, e guardei a fé” (Bíblia Sagrada, Timóteo 4:7)
Sem os testemunhos de cada cristão, utilizado
para dar continuidade a mensagem, o evangelho teria sucumbido com os apóstolos.
E não foi isso o que aconteceu. Ao contrário, os pais da igreja se utilizaram
de várias formas para dar continuidade a pregação das boas novas. Como mostra a
história ao longo do tempo, a utilização principalmente das viagens
evangelísticas, cartas e a tradição oral (técnica oral e textual) tiveram total
relevância na evangelização e na continuidade da igreja.
Conforme
o exposto, foi importante o papel dos apóstolos, pais da igreja, dos mártires e
de todos os cristãos os quais não negaram a fé em Jesus e deram continuidade a
distribuição das Boas Novas. No antigo e novo testamento, através dos escritos
deixados ao longo do tempo, projetaram os alicerces da igreja, até os dias de
hoje. Os manuscritos serviram de instrução, através da bíblia para o povo
cristão, fortalecendo o processo de evangelismo no decorrer dos séculos. Todo
os fatos relatados, deixam claro na história, apesar do sofrimento dos mártires
e de toda perseguição sofrida ontem, e em alguns lugares no mundo nos dias
atuais, a igreja continua a sua trajetória de proclamação.
Angélica Dantas
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